segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um exterminador do futuro


Ana Lúcia tem cinco anos. Adora fazer seus desenhos e, orgulhosa, constrói com paciência um lindo cavalo azul.
Apresenta-o a seu pai:
-Ah, desculpe, filhinha. Isso não parece, de maneira alguma, um cavalo...
O pai de Ana Lúcia, ainda que bem intencionado, não agiu de forma correta. Não  percebeu que na idade da filha a janela da inteligência pictórica, que a leva a desenhar, insinua-se diante de sua inteligência espacial, levando-a a fantasiar, e que sua resposta representa forte desestímulo. Pode estar, sem perceber, sendo um pequeno exterminador da linguagem gráfica de Ana Lúcia.
Deveria, então, mentir? Deveria fingir que o desenho é lindo, maravilhoso, elogiar a filha e, desta maneira, cultivar a mentira, a insinceridade?
Claro que não. Se assim o fizesse, estaria substituindo o estímulo pela hipocrisia e, um pouco mais tarde, Ana Lúcia iria descobrir que seu pai não expunha um juízo crítico e que, portanto, sua opinião era sempre uma farsa. Sua inteligência espacial e pictórica havia perdido a sensibilidade de um poderoso aliado na figura mágica de um pai educador.
Como deveria, então, agir?
Deveria, é claro, elogiar. Mostrar à filha que aceita com aplauso a maneira como ela “vê” um cavalo. Que respeita essa maneira e, pacientemente, mostrar como ele, o pai, costuma “ver” e, portanto, ilustrar cavalos. Nem anulação do esforço, nem mentira hipócrita, mas a singela percepção de que pessoas  diferentes podem enxergar de formas diferentes os mesmos objetos. Ana Lúcia, certamente, estaria sendo estimulada a comparar sua maneira de perceber o mundo com a do pai e, eventualmente, criar uma terceira maneira de ver cavalos...
O pequeno exemplo de Ana Lúcia pode transportar-se da casa para a sala de aula. Poderia também, se ambientado em uma sala de aula, ser transportado para a casa. O que vale é a consciência do educador e não onde o mesmo está atuando.

10 comentários:

  1. Gostei desse texto!Ele nos remete a idelização que o educando tem referente ao que se vê, fala, ouve, pega... Do concreto ao abstrato! é a ideia que o mesmo trasposta de sua a mente a realidade.
    Com isso nós Educadores, quando digo esducadores não estou me referindo somente ao PROFESSOR mas também aos PAIS que carregam grande parte da responsabilidade da educação, então não podemos deixar que os aprendizes fiquem desestimulados, ou seja, sem vontande de prossegir!

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  2. Mari suas palavras disse a principal mensagem do texto, a grande parte dos alunos fazem assim mesmo, finge que aprende e o professor finge que ensina.
    só completando tem a questão tambem do planejamento, acredito que a maioria dos professores não sentem-se estimulados a fazer-los e até mesmo quando fazem não fazem uma auto correção sem trocar estímulo pela hipocrisia como diz no texo,alguns avaliam dizendo que está tudo lindo e maravilhoso,deixando fazer seu papel de educador, que é o de ensinar.

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  3. Com os desafios decorrentes da prática pedagógica, o educador deve lembrar que influi no comportamento e atitudes do aluno. É como se o professor fosse um espelho, em que muitos alunos gostariam de ser o reflexo.
    O professor deve lembrar que a flexibilidade é muito importante. Não deve dispensar as críticas, pois elas são construtivas. Mas, pode criticar de uma forma mais sutil, mostrando que os objetivos solicitados não foram alcançados, mas o esforço do aluno deve ser levado em conta.

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  4. Realmente é bastante desestimulador para qualquer pessoa quando se faz algo e outros dizem que ta feio, ou que esta totalmente errado, ja passei muito por isso, quando ia mostrar algumas respostas de atividades aqui mesmo no curso, e o(a) professor(a) falava desse jeito ta bom de voltar para o fundamental. Muitas vezes esse tipo de resposta acaba travando o aluno de progredir, creio que nada que se faz deve ser descartado.

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  5. O que abstrai do texto, é que o professor antes de mais nada, jamais deve desmotivar os seus alunos.
    Deve avaliar seu alunado, respeitando a sua fase cognitiva, não dando respostas prontas, mas oferecendo caminhos para que os alunos construam seu conhecimento. Isto ressalta o papel de direcionar, de encaminhar o aprendizado.

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  6. O professor, no texto, tem o mesmo papel do pai: o de Educador. O pai assim como o professor tendo esta função tem como dever estimular as crianças para assim ajudar no desenvolvimento cognitivo, importante em cada fase. Como foi sugerido, o papel do pai deveria elogiar o desenho, questionando sobre com ela “via “ o cavalo para assim ela ver que não pensava como o pai, ou seja, o pai como educador contribuiu para que Ana Lucia nas suas relações pessoais, possa futuramente perceber que nem todo mundo ver as coisas do mesmo jeito, ou tem a mesma opinião diante de algo. Assim e o papel do professor de ajudar na formação do caráter do aluno também (não jogando para a escola a responsabilidade). Ao mesmo tempo em que colabora para a parte investigativa do aluno , ele deve trabalhar comas relações interpessoais.

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  7. Concordo bastante como o comentário de Darli. Acredito que qualquer progresso mesmo que mínimo é válido. A criança ainda não conseguiu perceber que o cavalo azul foge da realidade, mas já conseguiu desenha-lo, se esquivou quando a cor, mas já houve um desenvolvimento. È isso que deve acontecer em sala de aula, por mais que um aluno não tenha conseguido concluir um raciocínio, mas já houve ali algo de crescimento, e cabe ao educador aprimora-lo, afinal somos mediadores do conhecimento.

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  8. Como educadores devemos perceber que nossos feedbacks sao cruciais na formação de nossos alunos, devemos ter a sensibilidade para perceber o esforço de cada aluno em vencer suas próprias barreiras e que cada aluno tem percentual de avanço diferente dos demais.

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  9. O texto ilustra uma situação muito importante - educação não ocorre apenas no espaço escolar mas sim em outras ambientes como o familiar. A LDB estende também a família a responsabilidade sobre a educarção de nossas crianças. Outro ponto importante é a falta de sensibilidade do adulto em relação à criança, sem nenhum preparo, sem nenhuma boa vontade, pessoas como o pai de Ana Lúcia, aparecem com frequência no meio de educadores se fazendo passar por tal, quando na verdade, não passam de exterminadores.

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  10. Palavras de incentivo de um professor, ou um pai, ou até mesmo um amigo, fazem toda a diferença na hora de seguir em frente. Críticas devem existir, porém de maneira a serem construtivas e nao para diminuir o outro. Quando a pessoa sabe criticar abrirá uma nova perspectiva, enquanto a critica apenas por criticar só faz desestimular e diminuir o outro. Devemos saber mostrar a nova perspectiva!

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