segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um ato de amor


Hora do intervalo na escola estadual. Lá no pátio as crianças brincam, correm, brigam, conversam, paqueram. Na sala de professores, coloca-se assuntos em dia. Uns atualizam seus diários de classe, outros folheiam o jornal, a maioria conversa sobre o salário e tudo quanto ele jamais poderá comprar. De repente, a conversa é interrompida pelo ingresso repentino de uma jovem, com roupa de enfermeira, solicitando uma desesperada ajuda:
- Por favor. Será que alguém pode ajudar. Estamos lá no hospital, aqui ao lado, com um paciente “aberto” e o médico desmaiou. O anestesista nega-se a continuar a cirurgia e eu não sei o que fazer. Será que algum dos professores pode ir até lá e dar continuidade à operação?
Não. Infelizmente não. O ato cirúrgico é um procedimento altamente profissional e somente especialistas em saúde podem promovê-lo. O professor pode sentir extrema solidariedade pelo paciente e até pela enfermeira em seu santo desespero. Mas, nada pode fazer para ajudar. Nenhum professor é especialista em atos cirúrgicos.
Não é, também, especialista em atos jurídicos. Para isso existem advogados e, se chamados a defender um réu, certamente teriam a dignidade de recusar. Toda sociedade brasileira compreende que o ato cirúrgico é para o médico, o ato econômico, para o economista, o ato jurídico, para o advogado... e assim por diante.
Compreende, enfim, que cada profissão se expressa pela execução de sua missão, através do exercício de um perito especialista no uso dessas habilidades. Será que compreende, mesmo?
Infelizmente compreende em parte. O ato pedagógico, o riais nobre dos gestos de amor, é ministrado por professores, mas muitos crêem que também médicos, engenheiros, advogados, administradores, sapateiros, farmacêuticos, mecânicos,  meteorologistas e sabe-se lá mais quem mais, podem “dar uma aula”. Afinal, basta conhecer um assunto e ir lá à frente falar sobre o mesmo...
Infelizmente poucos sabem que a verdadeira aula consiste em ensinar a aprender, treinar a atenção, desenvolver habilidades, fazer do conteúdo um instrumento para a descoberta de soluções novas. A sociedade brasileira, com raras exceções, ainda não descobriu que, se existem aulas que não levam ninguém a lugar algum, existem outras que constroem o ser humano e exploram toda incrível potencialidade de suas múltiplas inteligências.
A verdadeira aula é um nobre ato. O ato pedagógico é o ato do amor.

11 comentários:

  1. Esse texto é bastante reflexivo e nos leva a ideia do quanto é importante ser profissional!Nos mostra a grande responsabilidade que carregamos quando nos habilitamos para exercer o ato de Educar!
    No entanto, o ensino ainda é banalizado em varios aspectos, pois ainda vemos e vermos medicos, engenheiros, arquitetos, entre outros profissionais, entrarem na sala de aula pra serem Professor! Mas sabemos que não basta ter o conhecimento teorico das disciplinas é essencial o fundamento pedagogico. Seria o mesmo que aceitar um professor fazer uma cirugia em um paciente, como citado no texto!
    Acredito que ainda temos urgencia em ter DISCIPLINA E RESPONSABILIDADE!

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  2. Boa análise Mary!
    Dárli poderia contribuir um pouco mais, isto é, fazer uma análise maior.

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  3. Com este texto, pode-se perceber que o conhecimento de determinado conteúdo é importante, mas não é essencial para “dar uma boa aula”. Com isso o profissional deve ser incentivado a se capacitar melhor. É muito importante o compromisso dos professores com respeito a se profissionalizarem para atuar na área. Isso visa contribuir para um desenvolvimento maior dos alunos.

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  4. O texto faz refletir sobre a importancia da preparação profissional para o mercado de trabalho.Ter responsabilidade faz parte da missão uma vez que estamos nos dando com vidas é preciso cautela e muita reflexão para não perder o foco.Percebe-se também que fica claro a questão do professor "multfuncional", e que o fato da enfermeira ir pedir socorro justamente a uma professora não é por acaso,esse mal costume vem sendo introduzido ao longo dos anos,fazendo mais uma vez uma reflexão critica enquanto ao salário do professor,em relação ao do médico.
    abraços!!

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  5. É tão interessante quanto importante a valorização do professor quanto profissional.

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  6. O texto mostra a realidade que vivemos, quando encontramos "profissionais" em outras areas exercendo a função de professor, passando o que sabe de forma "crua", sem didatica alguma, sem preocupação se o discente esta aprendendo, se esta adquirindo conhecimento.
    Como diz o proprio texto "O ato pedagógico é o ato do amor" não é preciso apenas saber o conteudo é preciso saber ensinar a aprender.

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  7. Apesar de sabermos que o conhecimento científico é de extrema importância para se lecionar uma aula, pois é com domínio do conteúdo que se obtém segurança no que se vai falar, sabemos também que isso não é suficiente.
    Nós acadêmicos, além de estudar disciplinas específicas do curso a qual fazemos, estudamos também matérias de cunho pedagógico que nos auxiliam no comportamento e desenvolvimentos em sala de aula, como psicologia, didática, entre outras.
    E daí que se vê a diferença em ser um professor, e em ser um profissional de outra área com conhecimento científico.
    O ato de educar, transmitir conhecimentos, de dar direcionamento na aprendizagem é EXCLUSIVO do professor. E que dar aula não é simplesmente passar conteúdo e sim, procurar maneiras de fazer com o que o conteúdo aplicado seja assimilado, digerido, usando recursos e técnicas próprios a cada tipo de dificuldade. E somente o professor tem essa capacidade.

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  8. Imagine se um professor fosse terminar aquela cirurgia, o texto faz uma comparação com algo que acontece na educação a tanto tempo. Profissionais de outras áreas, dando aula , os motivos e necessidades são vários mas acredito que esses profissionais esquecem da responsabilidade que e ser professor e importância do ato de EDUCAR. O texto nos faz refletir sobre nossa profissão, que valor estamos dando a ela. Sabemos que somos responsáveis pela EDUCAÇÃO de tantas crianças.

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  9. Acho esse tema um tanto complexo e cheio de contradições, acredito que se escolhemos, e estudamos para exercer uma determinada profissão, devemos segui-las e não atuar em outra, não fomos capacitados para isso. Mas temos que concordar também que existe muitos profissionais formados na área de educação, atuam nesta área, e são péssimos profissionais, assim como tem vários profissionais formados em outras área e atuam na área de educação que são excelentes educadores.
    Acredito que muito se pode estudar a respeito de “como se dar uma boa aula”, mas o que vai determinar um bom educador é uma questão de vocação dedicação e como o texto falou, amor.

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  10. O ato de ensinar deveria ser apenas do professor. Quando charlatões se passam por médicos, eles nao sao punidos com o rigor da lei? Nao é necessário ter uma licença própria (OAB) para que o advogado possa advogar? Então, porque qualquer pode entrar numa sala de aula e ensinar. Da mesma forma que o medico charlatão pode destruir a vida de uma pessoa, o professor charlatão também pode destruir o seu futuro, sua auto-estima, sua vontade de aprender. Será que nao seria a hora da lei ser mais rigorosa? É fácil se dizer professor, difícil é ser PROFESSOR!!!!

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  11. Infelizmente ocorre no Brasil a conseqüência de toda uma era, uma era de quando uma criança fala que quer ser professor, esta é ridicularizada e logo desmotivada com fortes argumentos financeiros, e ñ sejamos hipócritas de falar que ser professor é paixão, é estilo de vida pois ñ deveria ser assim, devemos levar com paixão todas nossas atividades, mas ñ isso ñ pode ser motivo para salários ínfimos que ñ permitem ao professor ter dedicação exclusiva, e para ter uma vida decente tem que ser "sub-subdividir" em vários empregos ou pior, em tarefas distintas, afastando assim seu foco, que deveria ser o bom e verdadeiro magistério.
    Enquanto ñ remunerarmos dignamente nossos professores teremos que nos conformar com remendos, arranjos e desvios de função, pois satisfação, e elogios enchem o ego mas ñ pagam contas, ñ nos vestem, ñ paga o aluguel...

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