terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ainda bem que não era um certo professor

Sentindo que as articulações dos dedos incomodavam e que o cotovelo, além das
dores normais, comuns a todo professor, queimava ao menor toque, procurou o
médico.
- Ah, é ácido úrico. Não tenha dúvidas. Mas, em todo caso, vamos fazer um exame
de sangue. Feito o exame, não deu outra. O índice de ácido úrico, que deveria
situar-se entre 8 a 10 mg, estava beirando os 11 mg. O médico foi drástico: regime e
começando já.
Privou-o do torresminho assanhado, do churrasquinho de gato do final da tarde e,
quem diria, até mesmo dos grãos de todo tipo. Agüentou o regime por dois dias e foi
o bastante. Ao final do terceiro, acostumou-se à dor e voltou saudoso aos pecadinhos
da carne e dos grãos.
Dias depois, encontrando o médico, descobriu o que era ser drástico. Este, além do
sonoro pito, proibiu-lhe o que antes já havia proibido e muitas outras coisas mais.
Para assustá-lo, solicitou novo exame de sangue e, desta vez, percebeu que seu
índice já ultrapassara os 12 mg. Muito preocupado, enfrentou o regime; desta vez,
por cinco dias. Mas, afinal, o sábado chegou e perder a feijoada do Marcão, nem
morto. Após a feijoada, acreditou que o regime tinha ido mesmo por água abaixo e
esqueceu-se das recomendações médicas.
Aí a crise chegou. A gota, dura e perversa, inchou-lhe o joanete a ponto de não
agüentar nem mesmo chinelo. Até o toque do lençol doía e, semi-entrevado, outro
recurso não achou senão que, envergonhado, procurar o médico. Desta vez, o regime
e mais os remédios foram radicais. Assustado com a dor, cuidou de seguir todas as
prescrições e, quinze dias depois, novo exame de sangue trouxe-lhe o conforto e os
parabéns do médico.

Marinheiros e Professores - Celson Antunes
- Agora sim. Conseguimos baixar o índice e você, com juízo, remédio e regime,
chegou aos 8 mg. Você está curado. Esqueça a gota e goze a vida...
Ainda bem que quem o atendeu foi um médico. Caso fosse um professor, certamente
estaria submetido a normas regimentais ou portarias oficiais, obrigando-o a refletir
que a aprovação depende sempre de uma “média”; e como seu primeiro índice,
somado ao segundo e ao terceiro impunha um resultado ponderado, este certamente
indicaria o cumprimento da recuperação, mesmo estando literalmente curado. Onze,
mais doze, mais oito indica a média 10,3 mg. É ácido úrico demais e a recuperação
inevitável. A cura é detalhe.

7 comentários:

  1. Mas uma vez aqui se retrata a realidade em que vivemos a nota ponderada no final é o que realmente importa a cura é um detalhe. É importante que se faça a reflexão na hora da dura avaliação, ora se o aluno aprendeu com grande ou pouca combrança, o que deveria realmente importar é se realmente o aluno aprendeu, e não sua nota final.
    abcs

    ResponderExcluir
  2. O texto nos mostra o perigo de se trabalhar com média aritmética. Onde o resultado final é mascarado. No caso da educação, muitas vezes, podemos reprovar um aluno que durante o ano letivo venha evoluindo gradativamente, ou seja venha APRENDER o que foi passado, dentro de suas limitações. De outro lado podemos esta aprovando alunos que estagnaram ou até mesmo regrediram.
    Por isso, não é muito válido julgar o aprendizado do aluno a partir de média aritmética. Sendo muito mais real, caso se use uma média ponderada, valorizando o que o aluno poderá aprender no decorrer do curso.

    ResponderExcluir
  3. O texto nos mostra a realidade do nosso processo de avaliação, que como já estudamos é muitas vezes classificatório. O processo de crescimento de um aluno na grande maioria não é levado em conta, e quando isso acontece o trabalho de um ano todo vai por água a baixo, o aluno que foi progredindo dia a dia muitas vezes acaba por ser desestimulado.
    Devemos nos atentarmos de que o objetivo da educação e a evolução, o crescimento dos alunos.

    ResponderExcluir
  4. A média ponderada no processo de avaliação é mais importante do que o desenvolvimento do aluno no decorrer do ano. Ao final de cada unidade, temos uma quantidade (expressiva ou não) que vai “qualificar” todo que foi ensinado durante aquele período, quem consegue obter a “média” esta aprovado independente do que aprendeu (ou de que forma conseguiu esta media). Muitas vezes, acho que vivemos em uma utopia e por mais que se queira mudar esta realidade ela parece esta longe de acontecer. Infelizmente, o que importa é a quantidade. É um número, índice, percentual ou qualquer coisa semelhante que qualifica nosso ensino.

    ResponderExcluir
  5. Infelizmente temos que seguir o "sistema" que não avalia o aluno da mesma forma que um medico avalia um paciente. O medico se sente Feliz em ver que o seu paciente progrediu, mais o professor pode ate se sentir feliz em ver que seu aluno que tirou uma nota ruim na primeira unidade tire uma nota melhor na segunda, mais infelizmente melhorar a nota não é o suficiente, o SISTEMA não quer ver apenas o seu progresso ele quer ver o total de suas notas, e é ai que ocorre a injustiça.

    ResponderExcluir
  6. Pois bem, ler um texto como este e entender a mensagem que ele transmite é MUITO facil!No entanto, fazer sua aplicabilidade é bem complexa,pois para que se tenha mudanças é preciso que todos os meios envolvidos também mudem, sendo assim gera um dependencia coletiva.
    E a mudança pode começar a partir d nós msmo !

    ResponderExcluir
  7. Infelizmente a nossa sociedade é capitalista que só esta preocupada com questões relativas a notas que já advém desde o século XVI e XVII herança da sociedade burguesa aplicando provas e exames em vez de fazer uma avalição de forma amorosa como diz o educador Cipriano Luckesi.

    ResponderExcluir